segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Vida É Bela

Botei a primeira roupa que eu vi,encostada (jogada) encima da cama,e peguei uma nota de 10 reais.
As vezes,quando as coisas saiam do meu controle,eu ia pra rua...tentava fugir do resto do mundo e ficar contemplando minha dificuldade.
Outro problema é que sempre ia nos mesmos lugares,então era dificil desviar dos rostos conhecidos.

De qualquer modo,lá ia eu para mais um dia.Vagabundo é assim mesmo,não fica em casa...e as vezes nem casa tem.
Resolvi levar o meu velho violão preto,pra pagar de hippie pela cidade.


As mesmas avenidas,o marasmo de sempre,gente correndo pro trabalho,gente correndo pro bar,gente correndo...e eu tocando algumas notas falhas no violão.
Algumas vezes passava uma mulher bonita,mas eu nem me dava ao trabalho de tomar alguma iniciativa,por já saber a resposta.

A tarde ia caindo,meu animo também...e pensar que eu poderia estar bem agora,vivendo uma vida fútil repleta de "verdadeiros momentos de felicidade" com alguma mulher qualquer.
Bom...eu escolhi um violão e picos de alegria,misturados com grandes dias e semanas de tristeza.
A vida é bela.

Mas parado não ficarei,pensei,e assim me direciono ao bar mais próximo pra começar a Odisseia do Alcool.
Sabe,mulheres não tem essa educação,de ir no bar toda vez que estão tristes.Coisa ultrapassada pra caralho,mas prefiro assim as vezes.Não esbarro nenhuma inimiga em certos bares.Os melhores são os com uma fina camada de poeira nas prateleiras e muitas,muitas garrafas de pinga (fechadas).

Começo a pensar cada vez mais rápido,e admito que não usei nenhuma droga até o devido momento (6:47 da noite).Mas os pensamentos me vêem,como se estivesse no mar e as ondas me atingem a cada segundo.Contra-ataco com a clássica pinga com limão,afinal além de triste sou um músico devidamente pobre.
E os carros,os carros passam...sempre passaram desde que me entendo por gente.É estranho que o ser humano não se contenta,ele sempre se machuca.Antes do carro machucávamos animais,e agora envenenamos o propio ar que respiramos.
E dai? Não sou um cara panfletário,isso me dá nojo...gosto de deitar no vomito,suar em lençóis velhos e de ver o sangue escorrendo até o pulso...Não posso falar mal de quem mata o mundo,se o mundo me mata e eu agradeço.

Acendo um cigarro,essas horas nem sei direito a cor do meu violão.Deve ser como as estrelas que não vejo por causa da fumaça.Mas já são quase 7 e meia e eu mudo meu rumo,saio do bar,vou pra algum lugar pior,com gente mais louca e muito mais barulho.

Ia rolar uma festa no apartamento de um conhecido meu.É claro que na singela situação do nosso protagonista,a coisa ia ser perigosa.E lá vou eu,cambaleando....sempre...sem rumo,mas com destino.
Consigo depois de um esforço homérico,chegar na portaria do apartamento.Depois de apertar o botão errado mais de 478 vezes,acerto o numero.
Ricardo me atende.(Ricardo era um cult qualquer,cheio da grana.)
Ele soa levemente bêbado,ah mas que novidade!
Subo de escada,é mais seguro...e tenho medo de elevador.Músico é assim mesmo,tudo louco.Alias o correto é musicista,mas não estamos na Academia de Letras.

Ricardo abre a porta e logo vejo a palhaçada que me meti.Algumas garotas jogadas no sofá fumando o bom e velho haxixe.Uma conversa eufórica na cozinha americana,algum otario dançando ao som de Beatles (fase psicodelica por favor).
Mal entro na "festa" e uma louca vestida de hippie (ela tentou,perdoem-a) me oferece um tiro gigante de cocaína.
Obvio que aceito,pior não ia ficar .
Cheiro a droga e as coisas soam melhores.Na medida do possivel,afinal músico,principalmente roqueiro,adora uma droguinha.
Pelo menos cortei meus pensamentos negativos por um tempo.

Mas vejo que o efeito da coca não ia durar muito.Logo ando como um robo pela festa,esbarrando num casal de lesbicas que cantava o hino da Revolução Francesa enquanto faziam um strip.
Não tem glamour nessa porcaria,diz Ricardo antes de começar um imenso dialogo pseudo-filosofico.
Odeio esse papinho "metidos a cult."Será que sair com os expressionistas do começo do século era tão chato assim?

Sento-me num sofá com estampas indianas.Acendo um cigarro e uma loira me chama a atenção.Sim,afinal era minha ex,em poucas palavras.
Ela mesma,Gabriela Takase a personagem que é prostituta na minha outra historia (que eu nunca terminei).
Mas ela logo me vê,e antes que eu esboçe uma reação definitiva,graças aos efeitos ridiculos da cocaina...Gabriela desaparece numa nuvem de fumaça que algum imbecil soprou na minha cara.

Porcaria de festa,porcaria de gente.Maravilha de droga,mas chega de apologia.
Ao menos Ricardo tinha um bom gosto musical,e salvava a gente do desastre total,sempre mudando o som.
Infelizmente ele devia estar muito louco e colocou Bauhaus pra tocar.
De um observador carismático da vida,eu virei mais um drogado dançante numa festa.Adoro isso,e eu te avisei que as coisas não iam ficar bem.

Vou ao terraço me livrar desse povo fresco,depois de dançar ridiculamente,e encontro quem? Gabriela novamente,tomando uma vodka num belo copo de cristal (que mais tarde ela roubaria).
Pergunto por que ela estava distante dos outros também.
Ela me disse que só veio atrás de ar puro,estava cansada de todos esses junkies,só estava ali porque ia dar pro Ricardo.
Mas que vadia,eu disse.
Não vadia eu não sou,apenas sou uma mulher liberal do século XXI,Gabriela falou.
Você é igual todas as outras,me trocou por um junkiezinho de merda por causa de grana,retruquei.
Vai se foder,Gabriela disse antes de bater em meus cabelos com a garrafa de vodka importada.

Agora estou perdido,trancado no quarto do apartamento aonde rola a propia festa,com minha ex namorada que se revelou uma possível assasina.
O pior foi que ninguém viu a louca me arrastando até o quarto enquanto minha cabeça sangrava,e eu desnorteado a xingava de tudo que é coisa.
Satã,se você me escuta...leve a alma desse pobre músico embora,eu não mereço tanta palhaçada antes das 4 da manhã!

Gabriela trajava agora uma roupa sado-maso,sabe se lá daonde ela arrumou aquela porcaria.E também ao seu lado estava Ricardo,pelado.
Porra,eu vim aqui pra chapar,já to na merda e agora isso? gritei para os dois.
Não esquenta,cara.Não vamos fazer nada contigo,é que a Gabriela curte jogar videogame com essas roupas,sabe como é.Falou Ricardo no meu ouvido.
Eu não acreditei.
Mas Gabriela de fato ligou o videogame.

Quando me dei conta,estavamos num papo amigavel,jogando diversos games.Do lado do meu amigo pelado e da minha ex namorada com uma roupa masoquista,com direito ao chicotezinho.
Enquanto jogavamos Ricardo servia mais um pouco da cocaina...Tudo isso ao som do bom e velho Hendrix.
Eu podia escutar um pouco da música,mesmo com a porta fechada.


Aonde eu vim parar?Numa viagem sem fim,no vortex do bom senso?
Foi só mais uma noite.
Músico é tudo assim...vira a noite na rua e no final não lembra nada.
A vida é bela,enquanto eu não volto pro meu velho apartamento e começo a chorar por não poder ficar nessa viagem para sempre.
Perdi meu violão.

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