Me sentei num sofá azul,e acendi um dos abajures que ficavam ao meu lado.Um toque de glamour no meio do tédio daquela noite.
A sala tinha um estilo neo-classico que me dava nojo,aquela coisa batida que todos os decoradores faziam igual,e igual,e novamente.
Mas a desculpa para estar ali era plausivel.
O jacaré sentando a minha direita,usava um antigo terno vermelho,gasto pelo tempo.Ele tinha uma pegada de cafetão,ou algum malandro estilo classico.Fumava um charuto chinês e discutia no celular com seu chofer algo sem importancia.
Quanta classiqueira.
A minha esquerda não havia nada,um vazio preenchido de silêncio,um eco qualquer.Foi no eco que joguei as pastas que carregava desde manhã.
Não que elas contessem algo importante,eram só papéis de um antigo amigo,já morto.
Cobranças? não sei.
Poemas? pior ainda,ele não era dessas.
Rituais? Fotos de mutilações e coisas assim? Era mais provavel,mas foda-se.
O jacaré logo falou seu nome-Sir Isaac Muller.
Poderia ser pior,já que o charuto,de charuto não tinha nada,era marijuana.Mas eu recusei,afinal de contas,tinha um trabalho SÓBRIO a fazer.
Isaac continua a falar,falar,sobre suas viagens internacionais,as mulheres que conheceu (não sei o feminino de jacaré) e como a vida podia ser bela.
Já conheço essa historia...
A maldita secretaria nunca chegava,e agora a sala estava dominada pelo som do The Clash- algo totalmente sem sentido...
Maldita hora que aceitei levar esses papéis.
O velho amigo nunca foi um homem normal.Morreu num acidente bem estranho,a familia não quer falar,mas eu falo: uma bela queda do alto de um prédio qualquer.
Tirando isso...meus pensamentos entraram em devaneio,não foi uma boa idéia lembrar desse cara.
Não foi uma boa idéia.
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