sexta-feira, 29 de junho de 2012

Essa Cidade Tem Que Acabar-PARTE 1

"Essa cidade tem que acabar..." No puro lodo, nos esgotos velhos da cidade, a agua tratada chega na sua torneira, a mesma água que nosso personagem bebe agora, ruim mas aceitavel, é disso que eu falo, é disso que essa historia fala...de como ficamos tão ruins que todos acabaram por aceitar a verdadeira derrota do homem, mas que até o final vamos tentar omitir isso, com um pouco de graça talvez... Essa cidade tem que acabar. ----------------------X------------------ Sleeping Sun 19:35-Nessa noite de terça-feira o grandioso prefeito Kassab aprovou a lei que proibe o consumo de bebidas e cigarros na rua, assim como regulamentou o toque de recolher oficial a partir das 19horas da noite. Não que ele se sentisse bem com aquela droga entupindo seu nariz, mas era o que havia para a noite. Willian, nosso punk de 23 anos, odiava cocaina, mas como o governo liberava o uso, ele aproveitava para passar os dias chapado, sem emprego e sem perspectiva de melhorar. Morava num pequeno quarto de um cortiço no centro da cidade, junto com uma mulher, pois toda boa historia tem uma mulher. Anny era o nome dela, mais conhecida como "Dirty", mais uma punk suja clichê. O cortiço ficava agora no destruido e desolado Centro da cidade de São Paulo, dominado por traficantes, viciados, ladrões, assasinos, prostitutas e tudo mais. Não que não houvesse antes, mas como o prefeito Kassab esqueceu da cidade a muito tempo, o caos reinava. Willian se sentou no velho sofá rasgado de seu pequeno quarto, acendeu um cigarro e esperou...a porta bateu. Era Anny. -Trouxe o que você pediu!-disse a garota sorridente, como se tivesse ganho na loteria. -Mas o que era mesmo?- pergunta o jovem entorpecido. -Porra, precisamos comer alguma coisa as vezes né!-e Anny jogou dois pães e um pedaço de queijo em cima da mesa. -...Não sei se vou comer agora... -Você já cheirou né? -Ah até que sim mas deixei o seu ai. Anny se encostou, enrolou a nota e cheirou a carreira de pó em cima dum caderno velho. Os dois se situaram no silêncio por um tempo. A droga era barata mas era ruim demais! Logo o relogio digital marcou 20:00. Anny queria conversar e começou a falar sobre seu dia. -Procurei um trampo hoje sabe? -Hahaha...você? Pra que?- disse Willian rindo. -Não podemos ficar vivendo desse governo nojento, tudo deles é ruim, quero ter meu dinheiro e ir embora dessa cidade. -Você sonha demais as vezes. -Eu? é você que tem que sair dai...eu ainda te amo demais, mas sabe, você tinha que ser mais ativo,sei lá...- retrucou a garota. -...Você sabe como vamos acabar...e pra dizer que não fiz nada hoje eu fui lá. Willian tirou um bilhete preto do bolso da jaqueta com patch do GBH e entregou a Anny. Clinica Olho Por Olho. Aqui há o caminho, não a dor. Marque hoje mesmo sua "solução final". Rua Tapés, 579 -Você quer MESMO fazer isso? porra...- Anny esboçava uma certa tristeza na voz, talvez fosse a cocaina. Willian retrucou de modo estressado. -Sim pô, cansei disso tudo, e agora podemos fazer quando quisermos, queria muito te livrar disso tudo, dessa merda toda, sabe? Os dois ficaram em silêncio novamente. -...Vamos lá as 23, falar com o doutor Isaquiel, tudo bem? apenas pra saber como é. Anny não respondeu mas concordou abaixando o rosto. Os dois comeram um pão, quietos, e deixaram a droga de lado.

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